Contexto da obra:
Pannekoek escreve Lenin Filósofo em 1938, quando o bolchevismo já se consolidara como regime estatal. O livro é uma crítica teórico-política ao leninismo enquanto ideologia de um partido que, sob a aparência marxista, teria restaurado formas de pensamento e dominação burguesas.
O alvo: o materialismo de Lenin.
O ponto de partida de Pannekoek é o livro de Lenin Materialismo e Empiriocriticismo (1909). Ele considera que, ao tentar “defender o materialismo” contra o idealismo, Lenin recai em um materialismo mecanicista de tipo burguês do século XIX — uma filosofia de cientista natural, não uma teoria revolucionária.
Segundo Pannekoek:
Lenin entende o materialismo como relação direta e passiva com a matéria, o que reflete uma concepção contemplativa do conhecimento;
Marx, ao contrário, desenvolve um materialismo dialético - ativo, histórico e social - em que o pensamento é produto da prática social e da atividade humana transformadora.
Em outras palavras, Lenin confunde o materialismo dialético com o materialismo metafísico: para ele, a consciência reflete o mundo, enquanto para Marx a consciência é uma forma de prática humana consciente: o ser consciente.
A crítica epistemológica:
Pannekoek mostra que o leninismo, ao postular uma “verdade objetiva” acessível por um partido ou uma vanguarda, reproduz a lógica autoritária da ciência burguesa, aquela que se arroga o monopólio da verdade.
Isso tem consequências políticas:
o campo perceptivo que permite perceber na história capitalista que a classe operária é a classe revolucionária do capitalismo;
O partido se torna o depositário da consciência verdadeira.
Assim, a filosofia de Lenin é expressão ideológica da dominação burocrática que se instaurou na URSS.
A crítica filosófica está inseparavelmente ligada à crítica política:
para Pannekoek, Lenin transfere ao partido o papel criador da consciência, negando o pressuposto marxista de que a emancipação dos operários deve ser obra dos próprios operários;
o leninismo reflete a mentalidade de uma burocracia partidária , e depois estatal, que pretende guiar o proletariado “de fora”.
O leninismo é, portanto, a ideologia da dominação política da burocracia sobre o proletariado.
E o marxismo autêntico só pode ser recuperado partindo da perspectiva revolucionária do proletariado que tem na auto-organização da classe e da generalização da autogestão social revolucionária.
