Música para o Espírito

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

PREFÁCIO - MEMÓRIA E LUTA CULTURAL



Memória e Luta Cultural 

Nildo Viana é um incansável teórico engajado que se dedica à luta cultural revolucionária há mais de duas décadas, nos brindando com dezenas de livros, artigos, coletâneas, revistas etc. que seguem o mesmo propósito, quer dizer, serem armas culturais contrárias à exploração e degradação humana. Para isso, ele tem desenvolvido todo um arcabouço teórico metodológico fundamentado no autêntico[1] marxismo e no método dialético. Através desses desenvolve diversas teorias sobre uma infinidade de temas. Portanto, o livro que os leitores têm agora em mãos é mais uma das valiosas e raras contribuições teóricas do autor para a luta cultural, nesse caso, em torno da memória e da sua relação com a luta pela transformação social concreta na contemporaneidade. 

No interior dessa diversa obra, incluindo Memória e Sociedade, o autor trabalha com vários recursos heurísticos fundamentais para pensar e teorizar a realidade concreta da sociedade capitalista, a partir de uma perspectiva marxista. Dentre esses recursos podemos citar: totalidade, múltiplas determinações, determinação fundamental, luta de classes etc. Assim, o estudo aqui sistematizado contribui para reduzir uma lacuna significativa existente na maioria dos estudos (filosóficos, psicológicos, sociológicos, historiográficos etc.) sobre a questão da memória. O que determina essa lacuna? Essencialmente a hegemonia das expressões ideológicas (falsa consciência sistematizada), de inspiração positivista, sobre a memória (individual, social, coletiva). E a contribuição de Viana visa reduzir tal lacuna fornecendo um referencial teórico dialético para pensar a relação sociedade/memória no capitalismo, a partir da perspectiva do proletariado, ou seja, da perspectiva revolucionária da sociedade capitalista. 

Para dar conta desse enorme esforço teórico, o autor desenvolve uma diversidade de conceitos expressivos (memória manifesta, memória latente, evocação das lembranças, inibição memorial, adaptação memorial, invenção memorial etc.) da realidade que envolve a complexa questão da memória, na sua relação com a dinâmica do modo de produção capitalista da vida, de suas formas de regularização das relações sociais, em síntese, a forma como a questão da memória se envolve com as classes sociais e as lutas de classes, que se expressa através das ações e reações dos blocos sociais (dominante, progressista e revolucionário). 

A complexa questão da memória, incluindo as determinações das lembranças e dos esquecimentos (individuais, sociais, coletivos) compõe um intrincado ringue de lutas de classes em torno das rememorações. O que deve e não deve ser esquecido ou lembrado na sociedade capitalista é determinado pela correlação das forças sociais (classes sociais) em disputa, com o predomínio da perspectiva burguesa. E com o avanço do capitalismo neoliberal fica cada vez mais cristalino que não é do interesse do bloco dominante, tampouco do bloco progressista, comprometer-se com as verdades do passado, pelo contrário atuam incessantemente para apagar a verdade do passado através do processo de recuperação memorial que define o que deve e não deve ser recordado e esquecido sobre o passado, reintegrando-o na sociedade capitalista como uma de suas formas de regularização das relações sociais. 

Por outro lado, cabe ao bloco revolucionário resgatar as memórias, libertando-as do domínio ideológico burguês e de suas classes auxiliares, em especial a burocracia e a intelectualidade. Dessa forma, o bloco revolucionário, especialmente a partir dos seus representantes intelectuais, partindo da perspectiva do proletariado, busca resgatar as memórias do que é essencial sobre o passado, isto é, suas lutas e a potência que deriva das lutas revolucionárias em acabar, de uma vez por todas, com a barbárie que é o capitalismo e construir uma sociedade verdadeira humana, fundada na autogestão social. A tarefa dos intelectuais revolucionários é participar do processo de simbolização memorial, resgatando o essencial das lutas passadas e propagandeando, via luta cultural, a necessidade de lutas revolucionárias no presente. 

Nesse sentido, essa obra é um exemplo claro de tal luta cultural e chega em um momento importantíssimo, quer dizer, o de desestabilização da acumulação capitalista neoliberal, podendo ser ferramenta de auxílio ao próprio aprofundamento da crise contemporânea, contribuindo com o avanço das lutas sociais para além das fronteiras do capital, em direção a uma sociedade verdadeiramente livre e humana. Essa é a razão essencial pela qual essa obra deve ser lida e divulgada. Uma ótima leitura! 



Lisandro Braga, 

Professor no Departamento de Sociologia/DECISO e do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná/UFPR. 








[1] A necessidade de destacar a autenticidade do marxismo está no fato de que essa teoria sofreu inúmeras deformações (socialdemocrata, leninista, trotskista, estalinista etc.) ao longo do século XX e segue sofrendo outras tantas no século XXI, a ponto de converterem a crítica teórica da ideologia (o marxismo) em uma outra ideologia (leninista, trotskista, estalinista, maoísta etc.).

A QUESTÃO DA ORGANIZAÇÃO EM ANTON PANNEKOEK


 A questão da organização em Anton Pannekoek (Coleção Dialética e Sociedade Livro 4) - Edições Redelp


Anton Pannekoek é um dos grandes nomes do marxismo e o grande teórico dos conselhos operários, organizações autárquicas criadas espontaneamente pelos trabalhadores no bojo das tentativas de revoluções proletárias na Rússia, Alemanha, Hungria e Itália, e que ressurgiu posteriormente em várias outras experiências históricas. A questão da organização é uma das mais discutidas em sua obra e os textos aqui reunidos apontam para uma análise de sua contribuição para compreender as organizações operárias e burocráticas, como partidos e sindicatos, numa perspectiva crítica, tal como a de Pannekoek.

sábado, 11 de julho de 2020

Neoliberalismo Discricionário e Discurso do Bloco Dominante no Brasil (2015-2018)

Nesse artigo tentaremos demonstrar através de uma análise marxista da crise de acumulação brasileira e do discurso, que o discurso do bloco dominante sobre essa crise e suas supostas soluções é um discurso ideológico, cujo propósito fundamental é ocultar a realidade, isto é a crise de acumulação, genericamente apresentada como crise econômica, e a busca por uma maior exploração do trabalho e maior apropriação da renda estatal pela burguesia e determinadas frações das classes auxiliares. Os resultados obtidos com esse trabalho equivalem a conclusões iniciais de análises dos discursos jornalísticos sobre a crise de acumulação brasileira, entre os anos de 2015 a 2018, de uma pesquisa ainda em andamento.

https://publicaciones.sociales.uba.ar/index.php/elatina/article/view/5539/pdf#