Música para o Espírito

quarta-feira, 22 de julho de 2015

LUMPEMPROLETARIZAÇÃO E LUTA DE CLASSES NA ARGENTINA

Lumpemproletarização e Luta de Classes na Argentina

Lisandro Braga*

O processo de lumpemproletarização traduz a principal conseqüência social do regime de acumulação integral[1] em todo o mundo, no entanto esse processo possui suas singularidades segundo o modelo de capitalismo vigente em cada nação, isto é, apesar de constatarmos que durante a vigência do regime de acumulação integral o lumpemproletariado[2] tende a crescer, tal crescimento ocorre de forma diferenciada, pois nos países de capitalismo imperialista vem ocorrendo uma expansão do lumpemproletariado enquanto nos países de capitalismo subordinado o processo de lumpemproletarização tende a ocorrer de forma intensificada. A lumpemproletarização vem acompanhada da luta de classes que, também, atinge coeficientes diferenciados de uma região para outra. Acreditamos que esse seja o caso argentino. Vejamos.
Seguindo as análises de Maristella Svampa (2010), é possível perceber que durante décadas a Argentina foi dominada por um modelo de integração nacional-popular cuja máxima expressão foi a primeira fase do peronismo (1946-1955). Esse modelo se constituía por três grandes características: No plano econômico tal modelo se caracterizava por uma concepção de desenvolvimento inspirada na substituição de importações e por uma estratégia voltada para o desenvolvimento do mercado interno. No plano político o Estado se apresentava como o agente garantidor da coesão social através dos gastos públicos sociais. Essa política se traduzia na ampliação da cidadania burguesa[3] através do reconhecimento dos direitos sociais. Em terceiro lugar, havia uma tendência a promover a homogeneidade social visível na incorporação de parcela significativa da classe trabalhadora, assim como na expansão das classes auxiliares da burguesia[4]. Em linhas gerais, a Argentina se diferenciava dos demais países latino-americanos por possuir um Estado que, dentro das limitações típicas de um capitalismo subordinado, conseguia promover uma maior distribuição de renda e serviços públicos de qualidade para a maioria da população.
O desmantelamento desse modelo social percorreu diversas etapas, no entanto não ocorreu de forma linear nem tão pouco numa única seqüência. A substituição da sociedade fordista para uma sociedade de acumulação integral conheceu diversos momentos.
De maneira esquemática, poderíamos afirmar que as mudanças na ordem econômica se iniciaram durante a década de 70, a partir da instalação de regimes militares no cone sul da América Latina; as transformações operadas na estrutura social começariam a tornar-se visíveis na década de 80, durante os primeiros anos de retorno à democracia; por último, podemos situar as maiores mudanças no final dos anos 80 e princípio dos anos 90, com a gestão menemista (SVAMPA, 2010, p. 22).
Assim como em vários países da América Latina, a ditadura militar, que chegou ao poder na Argentina no dia 24 de março de 1976, tinha como principais objetivos programar uma rígida política de repressão, assim como refundar as bases materiais da sociedade. Por um lado, o terrorismo de Estado promoveu o extermínio e disciplinamento de amplos setores sociais mobilizados e, por outro lado, colocou em prática um programa de reestruturação econômica que produziria profundas repercussões na estrutura social e produtiva do país. Tais mudanças estavam assentadas na importação de bens e capitais e na abertura financeira. Isso implicou uma interrupção na política de substituição de importações e um grande endividamento dos setores públicos e privados, visíveis no extraordinário aumento da dívida externa[5] que passou de 13 milhões para 46 milhões de dólares no período de 1976-1983. Dessa forma, a lógica da acumulação imposta pela valorização financeira sustentou as bases de dominação centradas nos grandes grupos nacionais e nos capitais transnacionais (SVAMPA, 2010; BASUALDO, 2002).
Os efeitos dessa reestruturação econômica podem ser percebidos nas diversas mudanças geradas na estrutura social argentina. Dentre elas se destaca a enorme transferência da mão-de-obra empregada na indústria para o setor terciário e autônomo, assim como a formação de uma incipiente mão-de-obra marginalizada do mercado de trabalho - o lumpemproletariado. Além disso, houve uma significativa deterioração dos salários reais que aliada com a baixa produtividade causou a contração da demanda interna na qual foi acompanhada por um forte incremento das disparidades intersetoriais. A distribuição de renda também sofreu impactos negativos com a eliminação das negociações coletivas e com a queda salarial. Dessa maneira, 
até o final dos anos 80, envolvido em uma série de conflitos econômicos e institucionais, o país se afundava cada vez mais em uma grave crise econômica, refletida na importante queda da inversão interna e estrangeira, na crescente fuga de capitais e no recorde inflacionário, que em 1987 alcançaria 175% e, em 1988, 388% (SVAMPA, 2010, p. 25).
Diante dessa nova realidade, nascia na Argentina da década de 1990 uma sociedade empobrecida e atravessada por novas desigualdades sociais. O país experimentava o declínio estrutural do modelo nacional-popular sem contar com nenhuma chave para reencontrar a integração social de amplos setores populares e médios empobrecidos[6] (KESSLER & MINUJÍN, 1995; KESSLER & DI VIRGILIO, 2008). No entanto, as conseqüências mais drásticas estavam por vir, visto que a consolidação da nova ordem neoliberal argentina ocorreria durante os governos de Carlos Menen.
Recém saída de uma ditadura militar, a Argentina se encontrava extremamente endividada e presa a um modelo de governabilidade corporativo, autoritário e corrupto. A partir de 1992, com Carlos Menen no poder, inicia-se um período de neoliberalização da economia com vistas a obter auxílio dos Estados Unidos, assim como recuperar sua credibilidade perante a comunidade internacional. Para isso, Menen promoveu uma abertura comercial aos fluxos de capital externo, garantiu maior flexibilidade nos mercados de trabalho, reformou a legislação trabalhista, realizou uma ampla reforma tributária, privatizou empresas estatais, equiparou o peso ao dólar com o objetivo de combater a inflação e garantir segurança aos investimentos estrangeiros.
Uma das principais conseqüências da neoliberalização da economia argentina, sem sombra de dúvidas, foi a geração de milhares de postos de trabalho precarizados, subempregos, empregos temporários e milhões de desempregados. O índice de desemprego que na década de 1980 variava entre 4% e 6%, nos primeiros anos da década de 1990 chegam a 18,4%. Apesar da singela recuperação no final dessa década, tais índices voltam a crescer de forma assustadora a partir de 2001: dependendo da região, o índice de desemprego chegou a atingir a cifra de 50% da população economicamente ativa (VITULLO, 2008; SVAMPA, 2010).
A intensidade com que a pobreza foi atingindo amplos setores da classe trabalhadora foi proporcionalmente acompanhada pela intensidade das tensões sociais derivadas de tal pobreza, pois para amplos setores da classe trabalhadora argentina, o processo de privatização representou o fim de uma estabilidade no emprego e o início de um caminho, muitas vezes sem volta, ao desemprego e à vida lumpemproletária. A resposta popular a essa condição não tardou a aparecer, pois a história argentina conheceria uma nova modalidade de protestos sociais e um novo sujeito histórico, formado essencialmente pelo lumpemproletariado: o movimento piquetero.
A emergência do movimento piquetero está diretamente relacionada com o amplo processo de privatização neoliberal, principalmente com a privatização da empresa estatal petrolífera YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales), localizada nas províncias patagônicas de Neuquén, especificamente em Cutral-Có e Plaza Huincul, entre os anos de 1991 e 1993. Logo após a privatização dessa empresa milhares de trabalhadores foram demitidos. No primeiro momento buscaram sobreviver como autônomos e micro-empresários que prestavam pequenos serviços para a petrolífera, no entanto essas tentativas resultaram em verdadeiros fracassos[7] e esses ex-trabalhadores passaram a se encontrar isolados frente á frente com o desemprego aberto e sem nenhuma possibilidade de sustentarem a si mesmo e os seus familiares. Foi a partir daí que em junho de 1997 um grupo de desempregados convocaram seus familiares, vizinhos e vários outros setores sociais locais para bloquear a estrada nacional 22, “artéria chave na economia da região” (VITULLO, 2008; SVAMPA & PEREYRA, 2009; ALVAREZ, 2009).
Daí em diante, várias outras regiões afetadas pelos ajustes neoliberais conheceriam manifestações de desempregados e de diversos grupos de trabalhadores precarizados que passaram a adotar a estratégia dos piquetes e cortes de estradas como forma principal de protestos que se espalharam por diversas regiões da Argentina: General Mosconi e Tartagal (Salta), Libertador General San Martín (Jujuy), Cruz Del Eje (Córdoba), Capitan Bermúdez (Santa Fe), Buenos Aires e Conurbano Bonaerense e outras regiões mais.
É no ano de 2000 que a prática piquetera atinge o Conurbano Bonaerense, alcançando um caráter nacional e permanente, deixando de ser um fenômeno localizado e fragmentado e tornando-se uma prática de resistência aos ditames neoliberais com caráter nacional. Em resposta à intensa lumpemproletarização de diversas regiões do conurbano, a prática dos piquetes e cortes de ruas/estradas se generalizam e se prolongam por semanas em vários municípios em volta de Buenos Aires. Com isso o governo De La Rua se vê obrigado a reconhecer esse movimento e iniciar negociações que apontem para a solução do desemprego em massa. Concomitante a esses cortes de ruas locais, se espalham, no mesmo período, cortes de estradas por todo o país. A repressão se intensifica e a reação popular cresce assustadoramente após o assassinato de alguns militantes piqueteiros (o assassinato de Aníbal Verón e Santillán são casos exemplares). De acordo com Vitullo,
segundo um estudo realizado pela consultora Centro de Estudios Nueva Mayoría (2004a) divulgado pelo Jornal La Nacion, os cortes de estradas realizados em todo o território nacional foram 140 em 1997, 51 em 1998, 252 em 1999, 514 em 2000, 1383 em 2001 e 2336 em 2002 (o que representa uma média superior aos 6 bloqueios diários, sendo este o ano recorde em matéria de cortes) e, em 2003, verificaram-se 1278 interrupções à circulação de veículos e mercadorias” (2008, p. 115).
Nesse período, insurge um ciclo ascendente de lutas sociais e de enfrentamento popular contra as forças policiais que tomará conta da cena política e social argentina até aproximadamente o ano de 2003, período em que as lutas sociais iniciam seu refluxo. Em diversos períodos a tensão social adquire elevado grau de radicalidade e, conseqüentemente, a repressão do “Estado penal” tendeu a ampliar-se a ponto de iniciar um verdadeiro processo de criminalização do protesto social (WACQUANT, 2001; KOROL, 2009).
Esse novo ator social, composto majoritariamente pelo lumpemproletariado, denominado de movimento piquetero, assim como a dinâmica de suas lutas firmadas na ação coletiva, na organização solidária, com tomadas de decisões pautadas em assembleias horizontais e adotando o corte de ruas e estradas como principal ferramenta de luta, possui de acordo com vários autores uma dupla filiação. Portanto, para que se compreenda a emergência e desenvolvimento do movimento piquetero torna-se necessário apresentar essa dupla filiação.
Uma das principais e mais complexa obra sobre o assunto, elaborada por Maristella Svampa e Sebastián Pereyra e denominada Entre la ruta y el barrio – la experiencia de las organizaciones piqueteras (2009) afirma que
não é possível compreender a gênese nem o posterior desenvolvimento do movimento piquetero se não estabelecermos sua dupla filiação: por um lado, a vertente que apresenta a brusca separação dos marcos sociais e trabalhistas que configuraram a vida cotidiana de gerações e povos inteiros; separação violenta que, no limite, revela tanto uma relação mais próxima com o mundo do trabalho formal, como reflete a opção por um tipo de ação sindical não-institucionalizada; ligado a um modelo de ação confrontativo; por outro lado, a vertente que assinala a importância da matriz especificamente territorial da ação coletiva, e que da conta tanto de uma distância maior com o mundo do trabalho formal como, no extremo, da continuidade de uma relação mais pragmática com os poderes públicos, na luta nada fácil pela sobrevivência (p. 20).
A primeira filiação está intimamente relacionada com as conseqüências sociais que as reformas e “ajustes” neoliberais provocaram no mundo do trabalho a partir da implementação de um novo projeto econômico orientado para a eliminação de déficits fiscais, desregulamentação dos mercados e privatização acelerada de empresas públicas. Juntamente com esses ajustes foi aprovado o Plano de Convertibilidade de 1991 que estabelecia a paridade entre o peso e o dólar, reduzindo as tarifas alfandegárias, liberação do comércio exterior e aumentando a pressão fiscal. Os principais mecanismos de controle do Estado foram suprimidos a favor das regras do mercado.
As conseqüências sociais foram drásticas, pois a queda na qualidade dos serviços públicos foi extrema, milhares de pequenos investimentos se viram falidos, milhares de lumpemproletários que além de perderem seus salários, perderam o seguro-desemprego e se encontravam extremamente endividados. Nesse novo contexto, as mudanças no mundo do trabalho modificaram-se bruscamente, pois
o processo privatizador deixou uma importante quantidade de trabalhadores desempregados com diferentes trajetórias ocupacionais. No caso dos trabalhadores empregados se modificaram as condições de contrato de trabalho, de uma situação de quase garantia de estabilidade no emprego se passa a uma situação de incerteza e precarização das condições de trabalho e possibilidades de associação sindical (BONIFACIO, 2011, p. 73).
Como foi dito anteriormente, o impacto mais extremo dessas reformas veio em conseqüência da privatização de uma das empresas públicas mais lucrativas e estratégicas da Argentina, a YPF. Vale lembrar que a YPF consistia em uma das maiores empresas estatais argentina e seus trabalhadores formavam uma espécie de “aristocracia operária” visto que possuíam uma ampla gama de garantias e direitos sociais (saúde, moradia, educação para os filhos, creches, espaços recreativos etc.) oferecidos pelo Estado social argentino, usufruíam de estabilidade no emprego e de excelentes salários. Com a privatização da empresa no ano de 1993-1995, em pouco tempo todas essas garantias desapareceram e o processo de intensificação da lumpemproletarização insurgiu:
a empresa, que em 1990 contava com 51 mil empregados, logo após um acelerado processo de reestruturação, que inclui demissões voluntárias e arbitrárias, passou a ter 5.600 trabalhadores. As baixas contabilizadas de 1990 e 1997 foram as seguintes: para a região saltenha, 3.400; na região neuquina, 4.246; no vale austral, 1.660; em Comodoro Rivadavia, 4.402 e, finalmente, em Santa Fe (San Lorenzo), 1.177. Enfim, a reorganização do trabalho esteve marcada por uma forte flexibilização que incluiu a descentralização e desregulação dos setores, a redução sistemática de pessoal, a limitação no pagamento das horas-extras, a intensificação do tempo de trabalho e a incorporação de novas tecnologias (ROFMAN apud SVAMPA & PEREYRA, 2009, p. 107).
É nesse contexto que nasce na Argentina o movimento piquetero que, em resposta aos efeitos desintegradores das políticas neoliberais e seus ajustes estruturais, buscou auto-organizar e mobilizar o lumpemproletariado composto por desempregados e outros setores empobrecidos da sociedade. O movimento piquetero adquiriu um caráter de protagonista nas manifestações contra o neoliberalismo argentino e seus métodos de resistência popular ocuparam um lugar destacado na política nacional. Os explosivos cortes de estradas e as enérgicas puebladas de Neuquém, Salta e Jujuy entre 1996 e 1997
representam o ponto inicial no qual uma nova identidade – os piqueteros – um novo formato de protesto - o corte de estrada -, uma nova modalidade organizativa – a assembléia – e um novo tipo de demanda – o trabalho – ficam definitivamente associados, originando uma importante transformação nos repertórios de mobilização da sociedade argentina  (SVAMPA & PEREYRA, 2009, p. 25).
A segunda filiação do movimento piquetero é marcada por uma modalidade de ação coletiva de caráter territorial, pois diferentemente das manifestações ocorridas nas longínquas províncias patagônicas que sofreram com as privatizações das empresas estatais, os protestos que ocorreram na região do Conurbano Bonaerense remete a um longo processo econômico e social ligado à desindustrialização e deterioração crescente das condições de vida das classes populares e auxiliares, iniciados ainda na década de 1970. O processo de desindustrialização da região afetou uma parcela importante dos setores assalariados. De acordo com os dados para a região da Grande Buenos Aires, entre 1980 e 1990 o desemprego aumentou de 2,3 a 6%, a subocupação duplicou, passando de 4,5 a 8,1% da população economicamente ativa. O emprego informal que era de 42,1% em 1980 foi para 48,5% em 1991 e terminou por adquirir características próprias de outros países latino-americanos (SVAMPA & PEREYRA, 2009).
As ocupações ilegais de terra na região do Conurbano Bonaerense são reveladoras do processo de pauperização social que atinge a região desde o período da ditadura militar. Esse processo de ocupação de terras às margens dos grandes centros urbanos argentinos foi, muitas vezes, resultado de uma ampla organização territorial que contaram com o apoio de organizações eclesiásticas de base e organização de direitos humanos. De acordo com as análises de Merklen (2005), os assentamentos de terras demonstram a emergência de uma nova configuração social que manifesta o processo de inscrição territorial das classes populares, relacionada com a luta pela sobrevivência e pelos serviços públicos básicos. Por conseguinte,
tais ações foram construindo um novo marco e, por sua vez, um emaranhado relacional próprio cada vez mais desvinculado do mundo do trabalho formal. Uma das principais conseqüências dessa inscrição territorial é que o bairro foi surgindo como espaço natural de ação e organização, e se converteu em um lugar de interação entre diferentes atores sociais reunidos em refeitórios, posto de saúde, organizações de base, formais e informais, comunidades eclesiásticas de base, em alguns casos apoiadas por organizações não-governamentais. Enfim, o surgimento de novos espaços organizativos dentro do bairro conheceu um novo impulso, ainda que fugaz, durante os dois episódios hiperinflacionários de 1989 e 1990, visíveis na proliferação de refeitórios populares (SVAMPA, 2005, p. 106).
Entre 1990 e 1998 sucessivas ondas desindustrializadoras atingiram a região do Conurbano Bonaerense como resultado das privatizações e ajustes neoliberais. Conseqüentemente, ocorreu um acelerado processo de expulsão do mercado de trabalho acompanhado de uma maior instabilidade no emprego. Vale lembrar que boa parte dos sindicatos argentinos foram cooptados e aceitaram prontamente esse conjunto de reformas e ajustes neoliberais. Dessa maneira, parcela significativa dos trabalhadores do conurbano passou a se sentir completamente desorientados politicamente. No entanto, as conseqüências políticas e sociais para as instituições burocráticas e clientelistas do Partido Justicialista também foram enormes, assim como o debilitamento do peronismo no mundo popular.
 Diante da ausência de respostas efetivas do poder público e das suas instituições para os problemas sociais que afetavam o lumpemproletariado da região, emergiram organizações populares nos bairros que passaram a se organizar por fora das estruturas burocráticas, tais como partidos políticos e sindicatos. É nesse contexto que emerge as organizações de desempregados e um novo modelo de militância territorial na região do conurbano. Portanto, entre 1990 e 1995 alguns bairros começaram a se organizar para reclamar das tarifas dos serviços públicos privatizados. Em 1995 surge a primeira comissão de desempregados no município de La Matanza, porém somente em 1996 inicia as primeiras manifestações exigindo auxílio à alimentação.
Tais manifestações ocorrem em maio de 1996 quando vários vizinhos dos bairros María Elena e Villa Unión realizam uma manifestação na Praça São Justo com uma importante participação feminina. Logo em seguida, no dia 06 de setembro de 1996 se realiza uma importante “Marcha contra a fome, a repressão e o desemprego” até a Praça de Maio, que reuniu aproximadamente duas mil pessoas. A marcha foi um pontapé inicial para a emergência de diversas organizações de desempregados em vários municípios do conurbano (SVAMPA & PEREYRA, 2009).
La Matanza é um município vizinho à capital da República, com aproximadamente 1.500.000 habitantes, população que supera de longe à de 18 das 23 províncias argentinas (ISMAN, 2004). Trata-se de um enorme aglomerado urbano com grande quantidade da população vivendo abaixo da linha da pobreza. Segundo o Jornal Clarin de 22 de outubro de 2001:
La Matanza é um dos maiores e mais difíceis municípios do conurbano bonaerense: calcula-se que o 50% de seu um milhão e meio de habitantes vive abaixo da linha da pobreza e que o índice de desemprego chega a 30%. Viver, nesse contexto, se torna mais complicado a cada dia. As pessoas não têm dinheiro, não tem teto seguro, não tem comida, não tem roupa, não tem remédios. E não tem esperança (Apud ISMAN, 2004, p. 18).
As condições de deterioração pelas quais vem sofrendo o município de La Matanza se inicia em 1976 com o golpe militar e vêm se ampliando continuamente até atingir sua fase mais acentuada durante o período menemista (1989-1999). As ocupações ilegais de terra na região do Conurbano Bonaerense são reveladoras do processo de pauperização social que atinge a região desde o período da ditadura militar.
Durante o período marcado pela substituição de importações, o setor fabril carregava consigo o restante das atividades econômicas em termos de produção e gerava diversos postos de trabalho, porém nos anos noventa o coeficiente de empregabilidade se encontrava na ordem de -3,7% e demonstrava que o setor industrial foi o grande responsável pela expulsão da mão-de-obra na região (BASUALDO, 2002; BARRERA & LÓPEZ, 2010). Nesse contexto, La Matanza deixou de ser um dos grandes pólos industriais do conurbano para se converter numa região que apresenta altos índices sociais negativos. E essa realidade não era exclusividade desse município, pois diversas outras regiões do país também passaram a experimentar um intenso processo de lumpemproletarização.
De acordo com uma nota de Ismael Bermudez, contida no jornal Clarin de 19 de setembro de 2001, exemplifica a situação geral do Conurbano Bonaerense:
O desemprego cresceu quatro vezes mais (subiu de 5,7% para 22,9%) e entre os chefes de família se multiplicou por cinco (de 3,3% a 17,2%). Como resultado direto dessa situação, nesses municípios quase 40% das residências é formada por pessoas que recebe apenas 20% da renda da região. Isso explica a razão pela qual a pobreza atinge quase 50% da população, o que significa que seus habitantes ou famílias da região não possuem renda suficiente para custear as compras dos bens e serviços básicos (Apud ISMAN, 2004, p. 17).

Contra essa situação de desemprego, condições de vida precária e inexistência de serviços públicos básicos de qualidade (creches, escolas, postos de saúde, moradia, asfalto, rede de esgotos etc.), ou seja, por conta desse completo quadro de abandono gerado pelo descaso dos poderes públicos (municipal, estadual e federal) é que nascem, na região de La Matanza, diversas organizações de bairros que darão início a uma onda de protestos sociais que resultara em 1995 nas primeiras tentativas de organização do lumpemproletariado na região. É nesse contexto que emerge as organizações lumpemproletárias e um novo modelo de militância territorial na região do conurbano.
O que vem ocorrendo na Argentina da década de 1990 é parte do já vinha acontecendo em quase toda a sociedade moderna a partir da década de 1980, isto é, a sociedade moderna passa a sofrer importantes transformações nas suas formas de valorização do capital (toyotismo), assim como nas suas formas de regularização das relações sociais garantidoras do mesmo. A principal forma regularizadora dessas relações consiste no Estado Neoliberal. Esse emerge com o objetivo de proporcionar melhores condições para a acumulação capitalista através da desregulamentação do mercado, do “afastamento” do Estado das obrigações sociais (saúde, educação, segurança, emprego etc.) e de sua transferência para a iniciativa privada via privatização dessas obrigações e de alguns setores estratégicos antes sob o controle estatal (energia, água, gás, petróleo, transportes coletivos, telefonia etc.).
Juntamente com a emergência de um movimento lumpemproletário que passou a construir estratégias de enfrentamento ao processo de lumpemproletarização e empobrecimento generalizado, e que dificultaram a expansão das conquistas necessárias à acumulação integral, emergiu também a face mais autoritária e repressiva do Estado Neoliberal que, juntamente com os meios de comunicação dominante, transformaram a luta pelos direitos sociais em delitos contra a ordem e os manifestantes como delinqüentes dignos de serem aprisionados ou quando não executados sumariamente pelo Estado Penal, como ocorreu nos diversos casos de “gatilho fácil”[8].
A análise que Wacquant vem realizando em suas diversas obras sobre o Estado Penal e seu processo de criminalização do lumpemproletariado e de diversos movimentos sociais (tanto nos EUA, quanto na Europa) também serve para compreender a realidade Argentina, pois em todos os rincões em que o neoliberalismo se implantou enquanto forma estatal, se implantaram também suas faces punitivas da pobreza e do protesto social: criminalização, aprisionamento e extermínio. Segundo ele,
mais do que mera medida repressiva, a criminalização dos que defendem os direitos sociais e econômicos integra uma agenda política mais ampla, que tem levado à criação de um novo regime que pode ser caracterizado como “liberal-paternalismo”. Ele é liberal no topo, para com o capital e as classes privilegiadas, produzindo o aumento da desigualdade social e da marginalidade; e paternalista e punitivo na base, para com aqueles já desestabilizados seja pela conjunção da reestruturação do emprego com o enfraquecimento da proteção do Estado de bem-estar social, seja pela reconversão de ambos em instrumentos para vigiar os pobres (WACQUANT, 2008, p. 94).
O processo de criminalização do lumpemproletariado e de outras classes sociais afetadas pelo neoliberalismo inicia aproximadamente no ano de 1993 quando a Argentina foi tomada por distintas manifestações populares contra os ajustes neoliberais, nas principais cidades do país. Em diferentes momentos tais manifestações atingiram níveis de enfrentamento e violência que assustaram os poderes estabelecidos que em resposta procuraram ampliar a repressão policial e a criminalização dos militantes dos mais variados movimentos sociais.
Nos dias 16 e 17 de dezembro de 1993 ocorre em Santiago del Estero o que ficou conhecido como “El Santiagazo”. A pueblada, como também ficou conhecida as grandes manifestações populares, foi iniciada por trabalhadores estatais demitidos ou que tiveram seu salários reduzidos e atrasados por vários meses. Seus participantes invadiram e incendiaram simultaneamente inúmeros prédios dos poderes legislativo, judiciário, executivo e vários outros edifícios públicos, assim como algumas residências de políticos e sindicalistas locais. Na noite do dia 16, o governador Juárez foi destituído e o Congresso Nacional realizou uma intervenção nos três poderes provinciais após aprovar um projeto do poder executivo que autorizava o envio de tropas do exército e da polícia federal para a província de Santiago del Estero (KOROL & LONGO, 2009). Segundo Vitullo, foi nesse dia que a pueblada experimentou elevado nível de conflitividade, pois
os choques entre as forças repressivas e os manifestantes deixaram um saldo de quatro mortos e mais de cem feridos e uma forte impressão no restante da sociedade argentina, que, através da televisão, assistia azoada a estes fatos. Além deste saldo e como conseqüência da mobilização popular, o justicialista Fernando Lobo, governador da província em substituição de Carlos Mijuca – quem tinha deixado o cargo escassos 50 dias antes sem sequer alcançar metade do seu mandato devido a uma forte crise política -, também viu-se obrigado a renunciar, o que acabou precipitando o já assinalado processo de intervenção federal à província (VITULLO, 2008, p. 112).
Após o Santiagazo começaram a explodir em diversas localidades do país vários protestos sociais que passaram a desenvolver formas de mobilização popular pautadas pela ação direta. A somatória dos protestos e tensões sociais que assolavam todo o país desde a sua fase mais aguda entre os anos de 1996 e 1997, explode nos dias 19 e 20 de dezembro de 2001 na grande rebelião generalizada.
Por todo o país eclodiam tensões sociais, movimento de desempregados, mulheres agropecuaristas em luta, greves de professores, ocupação de fábricas e vários outros setores sociais em luta contra aquilo que era considerado por eles os responsáveis por toda a gama de dificuldades, lumpemproletarização, empobrecimento e diversas outras humilhações sociais. Dentre os eleitos responsáveis destacam-se: os governantes, os partidos políticos, o próprio Estado, a burocracia estatal, partidária e sindical, suas hierarquias, o sistema financeiro nacional e internacional, o FMI e o Banco Mundial e, para os setores mais radicalizados, todas as relações sociais pautadas pela obrigatoriedade capitalista da exploração do homem em troca da obtenção de lucros. Por essas razões o lema central dessas jornadas foi expresso na frase “Que se vayan todos, que no quede ni uno solo!” [9].
O caráter massivo dos protestos sociais promovido pelos diversos movimentos piqueteros argentinos, juntamente com seus métodos de bloqueios de estradas que impossibilitava a circulação de veículos, pessoas e, principalmente mercadorias, assim como a construção de formas de participação e decisões políticas pautadas por uma espécie de democracia direta, decisões coletivas e horizontais em assembléias etc. consistiram nas principais razões que levaram os poderes governamentais a temerem a expansão dessas formas de organização e da consciência de classe derivada das mesmas.
Por esses motivos é que desde o início dos primeiros levantes de desempregados, o governo argentino procurou criminalizar as lutas sociais. No primeiro momento com a ampliação da repressão policial – o deslocamento da Gendarmería (tropas militares), que originalmente foi criada para defender as fronteiras nacionais, para as províncias patagônicas tomadas pelas puebladas é um sinal demonstrativo da mudança na política repressiva. Com o avanço das lutas e das mobilizações populares o governo inicia um intenso processo de judicialização dos militantes de diversos movimentos sociais, principalmente dos integrantes de movimentos piquteros. Segundo Korol & Longo,
algumas das formas em que se manifesta a criminalização dos movimentos populares é o avanço do processo de judicialização dos conflitos, visível na multiplicação e no agravamento das figuras penais, na maneira em que estas são aplicadas por juízes e promotores, no número de processos contra militantes populares, na estigmatização de populações e grupos mobilizados, no incremento das forças repressivas e na criação especial de tropas de elite, orientadas para a repressão e militarização das zonas de conflito (2009, p. 84).
Outra estratégia adotada pelo governo argentino para criminalizar o movimento piquetero se deu através do uso excessivo dos meios de comunicação com o objetivo de criar uma imagem negativa dos militantes. Dessa forma, os meios de comunicação apresentavam os manifestos por direitos sociais como delitos contra a ordem e os manifestantes como delinqüentes violentos, assim como ocultando as motivações populares e apresentando apenas os episódios de violência popular, com isso gerando o medo, fragmentando a sociedade e impossibilitando o crescimento do apoio às lutas por direitos sociais[10].
O regime de acumulação integral é marcado por contradições crescentes, pois se de um lado é necessário, para manter a acumulação capitalista, realizar cortes drásticos em políticas sociais, corroer os direitos trabalhistas, precarizar e intensificar as relações de trabalho, expandir e intensificar a lumpemproletarização para alimentar o exército industrial de reserva e seu papel na manutenção de baixos salários e etc., por outro lado ela se vê obrigada a intensificar a repressão, pois, em conseqüência de tais práticas, cresce a violência contra a propriedade privada, os protestos sociais se radicalizam e a criminalidade tende a se generalizar. No entanto, o Estado neoliberal não pode ser mantido às custas da não redução da dívida pública e da poupança de recursos, e por isso tal Estado opta por ampliar o aparato repressivo e criminalizar o movimento piquetero e diversos outros movimentos sociais. É exatamente isso que vem ocorrendo na Argentina contemporânea e em diversas outras regiões do globo.
O movimento piquetero nos fornece um excelente exemplo de que a postura política do lumpemproletariado não é a mesma em todos os contextos históricos, pois se na França do século XIX, o lumpemproletariado foi cooptado pelo Estado francês e utilizado na repressão contra o avanço das lutas operárias, na argentina contemporânea, as lutas dessa classe social desenvolveu-se de forma autônoma, inicialmente desvinculada das instituições burocráticas, tais como sindicatos e partidos políticos, resgatando práticas do movimento operário revolucionário (assembléias coletivas e horizontalizadas, auto-organização dos bairros e de algumas atividades produtivas etc.) e adquirindo elevados níveis de radicalidade, que o tornou o principal ator em luta contra a intensificação da lumpemproletarização, típica da acumulação integral subordinada.
Portanto, não é possível afirmar que o lumpemproletariado é, e sempre será politicamente reacionário e cooptável, pois sua postura política se altera dependendo do contexto, das singularidades regionais e da correlação das forças sociais, podendo representar uma importantíssima aliança com o proletariado em torno de um bloco revolucionário. Na contemporaneidade, a postura contestadora do lumpemproletariado tende a crescer e, consequentemente, a se apresentar como uma ameaça cada vez maior à existência da sociedade capitalista.

Referências bibliográficas:
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* Doutorando em Sociologia/UFG e pesquisador do NUPAC – Núcleo de Pesquisa e Ação Cultural.
[1] Sobre o regime de acumulação integral Cf. VIANA, 2009.
[2] Para nós, o lumpemproletariado equivale a uma classe social composta pela totalidade do exército industrial de reserva (desempregados temporários ou de longa data, mendigos, sem-tetos, prostitutas etc.).
[3] “O cidadão, enfim, é um indivíduo que cumpre com seus deveres e direitos, ou seja, é aquele que respeita a propriedade privada, a liberdade de imprensa etc., paga os impostos, legitima o estado capitalista reconhecendo o processo eleitoral etc. O cidadão é o indivíduo conservador, o indivíduo que aceita o mundo existente, ou seja, a sociedade burguesa (modo de produção capitalista e formas de regularização não-estatais) e o estado capitalista. A cidadania, por conseguinte, é a concretização dos direitos do cidadão e, portanto, significa a integração do indivíduo na sociedade burguesa por intermédio do estado” (VIANA, 2003, p. 69).
[4] Utilizamos o conceito de classes auxiliares em substituição ao constructo ideológico de “classes médias”. A garantia e manutenção dos interesses dessas classes estão intimamente vinculadas à sociedade capitalista, portanto, “o que se deve ressaltar é que as classes auxiliares, devido às necessidades de sua própria reprodução, bem como sua inserção social, auxiliam a dominação burguesa [...]” (VIANA, 2003, p. 72).
[5]  Já há algumas décadas, diversos estudos vêm sendo realizados sobre a dívida externa dos países da América Latina e vários deles apontam para o seu caráter ilegal. De acordo com estudos realizados por pesquisadores do Observatório da Dívida na Globalização (Catalunha, Espanha), “no caso argentino, durante o mandato de Carlos Ménen (1989-1999), se ampliou o número de juízes da Corte Suprema de Justiça (o máximo tribunal de justiça), e o executivo designou, com apoio de um senado majoritariamente menemista, cortesias a dependentes do regime. Com isso, o governo de Ménen assegurava a ratificação de todos os seus atos sem que fossem impugnados por via judicial. Na mesma época se revisou a Constituição Nacional (1994). A reforma da Carta Magna não só permitiu a reeleição de Ménen, mas, além disso, facultou o presidente a tomar decisões próprias do Parlamento (delegação do poder legislativo ao poder executivo) [...] Esse foi o marco político que possibilitou que durante o ‘menemismo’ a dívida externa da Argentina crescera 150% e, em cumprimento as exigência do FMI, se privatizaram todas as empresas de serviços públicos e as que controlavam os recursos estratégicos do país” (RAMOS, 2006, p. 32-33).
[6] “Uma das conseqüências de grande peso econômico e sócio-culturais mais inesperadas que os setores médios têm sofrido na Argentina foi a de dar origem a um tipo de pobreza com traços particulares, uma vez iniciado o intenso processo de empobrecimento sofrido pela sociedade desse país. Basta dizer que entre 1980 e 1990 os trabalhadores em seu conjunto perderam em torno de 40% do valor de suas rendas, e logo após certa recuperação em 1991 devido à estabilidade, voltaram a perder em torno de 20% entre 1998 e 2001, com importantes oscilações até hoje. A profundidade e persistência da crise iniciada em meados da década de 1970 fizeram com que milhares de famílias de classe média e de pobres de longa data, que no passado conseguiam escapar da miséria, visualizassem suas rendas declinar abaixo da “linha de pobreza” (KESSLER & DI VIRGILIO, 2008, p. 32).
[7]  Um conjunto de obstáculos e dificuldades possibilitou que a maior parte dessas experiências resultasse em fracasso. Svampa e Pereyra apresentam alguns desses obstáculos: “Por causa da ausência de uma verdadeira política de recursos humanos, muitas das empresas naufragaram rapidamente, atravessadas por dificuldades ligadas ao reconhecimento da autoridade, à tomada de decisões, a escassa capacidade negociadora, a impossibilidade de obter contratos por causa do não cumprimento com obrigações impositivas, a carência de edifício próprio e a impossibilidade de acesso ao crédito, por falta de garantias de pagamento ou hipoteca; por último, pelos problemas associados ao elevado nível de endividamento” (2009, p. 109).
[8] “Gatilho Fácil é o nome utilizado na Argentina para denominar os episódios de abuso de poder no uso de armas de fogo por parte da polícia. Em geral, as vítimas de gatilho fácil são, sobretudo, jovens militantes dos bairros pobres, vítimas de processos de disciplinamento compulsivo realizados pelas forças policiais. A Correpi (Coordenadoria contra a repressão policial e institucional) tipifica esses métodos como execução sumária aplicada pela polícia e que geralmente são acobertas sob a alegação de mortes oriundas do enfrentamento. Esta pena de morte ‘extralegal’ se distingue por duas etapas: o fuzilamento e o acobertamento (KOROL & LONGO, 2009, p. 106).
[9] “Que todos vão embora, que não fique nenhum sequer” (tradução nossa).
[10] Para saber mais sobre o processo de criminalização da pobreza e dos movimentos sociais na Argentina Cf. KOROL, Claudia (org.). Criminalización de la pobreza y de La protesta social. Buenos Aires: El coletivo/America libre, 2009); CARDOZO, Fernanda. “Protestar não é delito”. A criminalização dos movimentos sociais na Argentina contemporânea – o caso do movimento piquetero (1997-2007). 2008. Dissertação (mestrado em História) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008. 130 p.

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